Eu comprei “Mate-me por favor” antes de entrar na faculdade, em uma das viagens para Rio Preto para prestar vestibular – pelas minhas contas, em 2001, 18 anos atrás.
(Pausa para tossir, estralar os ossos e trocar a fralda geriátrica)
Nessa época eu era um jovenzinho descobrindo o rock, baixando tudo de MP3 no Napster e queimando CDs como se minha vida dependesse disso. A Bizz era a minha bíblia, Allmusic era a minha enciclopédia. Eu gostava do punk, mas o que eu conhecia do punk era bem limitado – Green Day, Offspring, Ramones, Sex Pistols, Clash, e uma fase curta mas muito marcante de SKAPUNK!
(Pausa para o solo de trompete)
Nessa época qualquer material sobre Rock era ouro, e achar um livro sobre o Punk era mágico, uma oportunidade única. Eu viajava para esses bate-volta de vestibular com o dinheiro contadinho, e lembro que fiquei o resto da viagem sem comer direito – mas foda-se, o bendito livro era finalmente meu. “Mate-me Por Favor” é um livro do tipo “história oral” – cada capítulo é composto de citações de artistas variados, na tentativa de reconstruir um período nas palavras de quem realmente estava lá. É bem divertido, mas você fica meio perdido se não tiver uma noção prévia dos fatos narrados, ou pelo menos do contexto. Nessa época eu tinha uma noção beeem vaga…como eu disse, eu adorava o punk mas meu conhecimento era pequenininho. Eu não entendia porque era preciso falar de Velvet Underground antes de falar de punk, nem quem diabos era essa tal de Patti Smith e qual a relação entre punk e poesia. O que eu queria mesmo era saber do que eu já conhecia – de Ramones, Sex Pistols, Clash.
Nesse sentido o livro me decepcionou um pouco na época. Ao mesmo tempo, olhando em retrospecto…foi por causa do livro que mais tarde eu fui dar mais atenção ao Velvet e ao Lou Reed, e foi por causa do livro que eu fui ouvir o Raw Power no talo, como deve ser ouvido. O livro me mostrou um bocado de pessoas estranhas em muquifos estranhos fazendo música estranha – e hoje eu vejo que isso me influenciou de várias maneiras diferentes. Durante todos esses anos eu sempre voltei ao livro – geralmente depois de ouvir algum disco que figurava nele, ou só pra ler algum capítulo solto de causos escabrosos.
Reler esse livro agora é ainda mais divertido – tendo o contexto todo, sabendo quem são os personagens, entendendo porque diabos a gente fala primeiro de Velvet pra depois falar de MC5 e Stooges e só aí falar de punk. É tipo uma aula na Rock’n’Roll High School, onde os Ramones são seus colegas de classe, o Danny Fields é o professor, e o Lou Reed é o diretor que quer cagar na sua boca. Literalmente, cara. Yiiiiikes.