É muito estranha a experiência de ler “Pattern Recognition” (William Gibson) mais de 20 anos depois de seu lançamento. Diferente da temática cyberpunk que tornou Gibson famoso, “Pattern Recognition” se passa no presente de 2003, quando as palavras de ordem eram globalização, interconectividade, aldeia global (lembram dessa?).
A protagonista Cayce Pollard vive em Nova York, trabalha em Londres, viaja para Tókio e termina o livro em Moscou – o ritmo é rápido, as citações culturais nunca param, dá vontade de pegar um notebook e sair por aí, quisera eu ser cool como Cayce Pollard. E é aí que tá: esse mundo não existe mais, né? É estranho ler um livro tão otimista com o futuro, principalmente agora – com Trump reeleito, Elon Musk fazendo a rapa no governo, uma legião de techbros tentando implantar um tecnofeudalismo desastroso. O livro tem até um executivo de agência global de publicidade que no final se revela um cara legal – meu irmão, que coisa absurda de se pensar hoje em dia.
Enfim, eu jamais achei que leria um livro de William Gibson e pensaria em escapismo – e tenho que dizer que foi muito bom, botar os pés num mundo que não está prestes a explodir.