Hoje eu vi uma notícia que a Livraria Cultura fechou em Salvador, e lendo eu descobri que a Saraiva que existia no Salvador Shopping já havia fechado faz algum tempo. Cara, que chute nos bagos…
Eu fui morar em Salvador em 2008, participar de um programa de trainee na firma em que meu pai trabalhava. Foi meu primeiro trabalho de verdade, e eu ganhava razoavelmente bem dentro dos parâmetros da época. E te falar, boa parte desse dinheiro era despejada sem muita parcimônia lá na Saraiva. Entendam, no interior não existia nem livraria direito, haviam papelarias que vendiam uns livros lá e só. A Saraiva foi a primeira megastore que eu fui na vida e foi paixão à primeira vista. Livros e mais livros, uma seção enorme de quadrinhos, uma seção de CDs que era maior do que todas as 3 lojas de Araçatuba juntas…e o ambiente era incrível, era gostoso ficar zanzando por lá, sentar numa poltrona e ficar folheando alguma coisa, ou só ficar escavando as prateleiras. Um pouco depois eu fui conhecer a Cultura do Conjunto Nacional e vi que a Saraiva de Salvador era pitititica, mas era a MINHA livraria. Quantas vezes eu saí do trabalho e fui direto pra lá, seja pra esperar os congestionamentos no Iguatemi abaixarem, seja pra comprar alguma coisa mesmo. Enfim, era meu templo do consumo, e foi uma época muito boa – Salvador era incrível, e eu sinto saudades de lá.
Mas não é só lá, né? Mandaram o país inteiro pro caralho pra enriquecer meia dúzia de filhos da puta, e cá estamos passando pelo inferno com um imbecil no comando enquanto os outros imbecis desmontam o que restou do país. A Saraiva fechando em Salvador é o menor de nossos problemas – mas dói aqui em mim. Faz parte da minha ideia do país que poderíamos ter sido, do país que nos foi roubado.
You’re older than you’ve ever been
And now you’re even older
And now you’re even older
And now you’re even older.
You’re older than you’ve ever been
And now you’re even older,
And now you’re older still.
Time!… is marching on,
And time… is still marching on!
(repetir ad infinitum)
Eu não posto nesse blog desde fevereiro, sheesh. E o que aconteceu de lá até aqui? Ah, criança…
Aconteceu uma pandemia, bicho. Acho que em fevereiro a gente ouvia as notícias da China mas não imaginava que chegaria aqui. Até que chegou na Itália, até que chegou na Espanha, até que…bum, chegou aqui. Atualmente temos 10 mil mortos, um número absurdo de infectados e uma subnotificação que não nos permite saber quão profundo é o buraco da minhoca. Ah, e temos um presidente que prefere andar de jet-ski do que encarar seus problemas. Mas pro inferno com ele.
Aqui no apartamento nós começamos o isolamento em 15 de março. Hoje é 10 de maio – quase 2 meses de quarentena. Aqui em casa é fácil: eu, meu irmão e minha tia não saímos de casa pra nada, conseguimos pedir tudo o que precisamos com facilidade, meu trabalho tem garantido grana o bastante para nossas necessidades e o mercado de sites continua aquecido. Minha preocupação maior são meus pais, lá em Araçatuba, sozinhos – eu tenho medo deles não levarem a situação a sério e se exporem. O vírus não chegou lá ainda com toda sua força, e as pessoas começam a sentir uma falsa segurança que é bem perigosa. Todo dia eu falo com eles pra ver como tudo está indo.
E é isso, por ora. Jogando o jogo da espera, rezando para que ninguém muito próximo pegue essa merda (duas pessoas da FIB pegaram :/ ), rezando pra que o filho da puta que infecta o planalto não tente um golpe de estado. Esse post vai ser bem diarinho from the pandemic front, pra lembrar de que isso ocorreu, e de que estávamos assim por esses dias.
Saiu um artigo na BBC falando sobre o iFood, mostrando como eles estão levando restaurantes pequenos à falência ao mesmo tempo em que financiam restaurantes sem marca, apelidados de “dark kitchens” em áreas estratégicas (usando todos os dados que eles coletam com o app).
Enfim, hora de parar de usar o iFood? Eu sou um baita de um heavy user deles: teve uma época em que eu chegava a pedir entre quatro a cinco vezes por semana, hoje em dia está entre uma ou duas vezes. Ver essa transformação deles dá um certo desgosto, principalmente por ser uma batalha que eles vão ganhar. Ou morrer e levar todo um mercado junto.
O mundinho das start-ups atualmente segue esses passos:
A reportagem também toca em outro ponto que eu presenciei ao vivo: o iFood isola cliente, entregador e restaurante. Me surpreendi ao saber que os restaurantes não sabem quem são seus clientes – mas claro, faz todo o sentido. Ano passado eu fiz um pedido que não chegou, pois o site deles (do iFood) estava cagado e não enviava o número de meu apartamento. Vi isso no momento que fiz o pedido, dei meus pulos e consegui o número do restaurantes – eles receberam o pedido, mas não podiam me ajudar pois não tinham contato com o entregador. Tentei o contato com o entregador, o que também não foi possível – a única solução era entrar no chat do iFood e esperar a boa vontade de um bot. O entregador chegou lá embaixo, não sabia qual apartamento apertar, tentou me ligar e também não conseguiu, e deve ter feito o que qualquer trabalhador precarizado faria: jogou meu pedido fora e partiu para a próxima entrega. No final o iFood me devolveu o dinheiro, mas o problema não era esse. O problema é essa “blindagem” artifical que só beneficia o aplicativo e dificulta a vida de todos os envolvidos.
Enfim, foda-se iFood, aqui vamos nós ligar nas pizzarias para fazer nossos pedidos – como se fosse 2010? Ou usar os aplicativos próprios, no caso de restaurantes um pouco maiores. É triste isso, temos a tecnologia para facilitar nossas vidas com potencial de trazer benefícios para todos os envolvidos – mas não vamos fazer isso, porque nosso interesse real é trazer lucro para os investidores da forma mais rápida e grotesca possível, e não importa se vamos destruir o mercado todo no processo.
Segundo dia sem twitter. A principal vantagem é: eu não sou mais atacado por “Bolsonardices out of fucking nowhere” o dia todo. Fiquei sabendo das merdas que aconteceram porque meu irmão comentou, ou pelo telejornal que minha tia assiste. E continuo não sentido falta (ufa), mas ainda clico no link dele toda vez que canso de programar ou tenho um tempo livre entre uma tarefa e outra.
Eu vou precisar montar um ecossistema de sites para visitar. Em épocas pré-redes sociais, eu tinha o Google Reader com os melhores blogs do momento, a barra de favoritos do browser com os sites mais legais, e o delicious como um sacolão onde eu ia jogando qualquer coisa minimamente interessante.
Eu tentei voltar a usar RSS algumas vezes já, mas ainda não rolou. Talvez pelos clientes atuais serem meio ruins, talvez por quase ninguém hoje em dia usar. Não existem mais blogs como antigamente – aquela coisa do blog como vardump morreu, hoje o twitter é o vardump. Mas claro, as newsletters voltaram, é capaz dos blogs voltaram de uma forma ou de outra também. (Pensando aqui com meus botões, a proliferação dos static site generators talvez ajude nisso. Enfim, é uma possibilidade).
A barra de favoritos eu voltei a usar – hoje em dia ela está linda, cheia de pastas e subpastas, abarrotadas de links esperando para serem redescobertos. Mas é uma pena que uma penca deles já deve ter morrido – a merda da efemeridade da internet é essa, o texto que mudou sua vida está a um update ou dois de se perder para sempre no limbo etéreo da cyber-rede de computadores.
E o delicious foi comprado pelo pinboard, e eu passei a usar a pinboard – mas confesso que ainda não acostumei. Não tenho o que reclamar dele: é simples de usar, tem bookmarklet, permite tagueamento, o site é simples, intuitivo e não tem uma propaganda. E tem uma API maneirinha, que eu vivo dizendo que um dia vou utilizar para criar uma representação mais visual dos meus favoritos.
Hoje eu enchi o saco de Twitter: desinstalei o aplicativo do celular, e no desktop eu pedi para o meu irmão trocar minha senha e não me falar qual é. Achei que fosse rolar uma crise de abstinência, alguma tentativa de voltar atrás, mas…putz, até agora nada? Ainda bem.
Porque eu enchi o saco: porque é uma perda de tempo do pior tipo, que toma um tempo danado sem dar a impressão de tempo perdido. Você fica lá, descendo aquela timeline infinita, lendo as presepadas de pessoas que nunca viu na vida, sentindo raiva de algo que um zé falou a milhares de quilômetros de você, se segurando pra não xingar alguém que não vai nem ao menos ler você no meio de milhares de outros xingos. É um bolo de tretas que, em 90% dos casos, não me dizem respeito – mas mesmo assim eu ia lá chafurdar no chorome, perdendo horas pra entender porque fulaninho ser cancelado, porque ciclano brigou com a panelinha do brégodégo, etc e tal.
Claro que tem coisas legais, tem pessoas legais, tem conteúdos legais – mas o equilíbrio de sinal/ruído estava uma merda. Eu sei que vou voltar daqui alguns dias, mas vou fazer uma limpeza bem drástica na timeline – tirar os motoboys de tretas, os perfis do tipo “indigne-se você também”, se pá quase todo mundo que fale de política. Acho que não é uma tentativa de se alienar, mas sim de se poupar e evitar a dessensibilização.
Alguns conceitos chave do Mark Fisher, em um resumo bem toscão:
Realismo Capitalista: talvez o principal conceito trabalhado por Fisher, sua essência está na frase “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que imaginar o fim do capitalismo”. É um mecanismo do capitalismo que propaga sua sensação de inevitabilidade, de não haver alternativa. O capitalismo passa a se confundir com a própria realidade:a vida é assim, o mundo é assim, e pensar que pode ser diferente é ser ingênuo ou estar agindo de má fé. Chegamos ao século XXI, o futuro é agora e se você não está contente, se você não se encaixa…problema seu. E se você acha isso deprimente, bom, a ideia é te deixar deprimido e imóvel mesmo.
Comunismo Ácido: esse seria o título do próximo livro de Mark Fisher, se ele não tivesse se matado em 2017. Comunismo ácido obviamente é um contraponto ao Realismo Capitalista: se o Realismo Capitalista é o fim das alternativas e a morte da imaginação, o Comunismo Ácido é o surgimento de possibilidades, a busca por alternativas. Comunismo Ácido tem a ver com lisergia, com acid house, com dissolução da realidade – desamarrados do peso desse presente que nos é imposto, temos liberdade para imaginar um futuro digno para a humanidade. Ou algo assim. Fisher jamais concluiu o livro, infelizmente.
Hauntology: não sei nem como traduzir – “haunt” é um termo de tradução difícil, e a palavra hauntology faz um joguinho com ontologia. Enfim, fiquemos com “Hauntology” – é o sentido em que a cultura contemporânea é assombrada pelos “futuros perdidos” da modernidade que foram cancelados com o pós-modernismo e o neoliberalismo. Hauntology de certa forma é esse desejo por um futuro que nunca existiu, por esses futuros que poderiam ter sido se não estivéssemos tão ocupados alimentando bilionários.
Alguns trechos importantes:
“However here we are in 2018 – in an increasingly insular and angry country where a sizeable chunk of the previous generation have managed a land grab bigger than has ever been seen before, left us with a particularly predatory form of capitalism, then all taken an early retirement that the rest of us are having to pay for by working into our late 60s. The slogan “never trust a hippy” has never seemed so apposite (yeah, yeah: “not all hippies”). We want the future we were promised, not this land of racism, stupidity, and greed.”
“And for me this re-enchantment is deeply entwined with wresting the myth of Deep England out of the hands of the conservative/far-right, and reshaping it (amongst other things) to mould the future into the more progressive, empathic, and layered future that we were promised.
Of course, this on its own is not going to change the balance of power, but it can help to change the shared social myth, the “national narrative”, to one where the path towards this future is signposted and clear.”
“As you know, for me, part of it was a knowing that given the way the national narrative was going, this vital space was going to be a prime land grab for fascists. Hence re-enchantment is resistance.”
Percebi que nos últimos anos eu circulo por uma espécie de rodízio de jogos que eu repito periodicamente, e que me atraem novamente por um motivo ou outro.
O primeiro deles é They Are Billions (219 horas jogadas), um jogo de estratégia em tempo real (pense Starcraft). Seu objetivo é sobreviver hordas de zumbi durante um período determinado de dias – no final disso, uma MEGAHORDA invade o mapa por todas as direções possíveis e você tem que sobreviver do jeito que der. Eu percebi que amo as primeiras horas de uma partida, que envolvem principalmente limpar o mapa de zumbis para poder expandir sua base – é muito legal, você vai explorando o mapa e decidindo pra que lado irá expandir, o melhor local para fazer muros e choke points, etc. Em compensação, o final do jogo me perde completamente – não tenho saco pra ficar pra ficar construindo uma defesa que aguente a megahorda, e acabo largando a partida e começando de novo.
O segundo é Factorio (131 horas), um jogo de fábrica – anotem aí, 2020 será o grande ano dos jogos de fábrica. O objetivo aqui é…construir fábricas? Olha só, você tem alguns minerais básicos – pedras, ferro, cobre, carvão – e vai usando eles pra construir materiais cada vez mais complexos. A graça do jogo está na automatização da fabricação desses materiais. Você tem fábricas, conveyour belts, braços robóticos, geradores de energia, linhas de transmissão, mineradoras, plantas químicas, unidades de pesquisa…e você é livre pra construir e interligar todas essas coisas do jeito que quiser. Quer uma amostra do que é possível? É só entrar no Youtube e procurar por “Factorio Megabase”. Eu geralmente jogo Factorio em “bursts” de alguns dias, mas depois de um tempo eu paro e penso “Meu Deus, isso é um trabalho! Aaaaaaah!”.
O terceiro é Stardew Valley (191 horas) – um clone mais que perfeito de Harvest Moon, o tradicional jogo de fazendinha do Super NES. Você é um zezinho que herda a fazenda (um sítio, vai) de seu avô, e seu objetivo é se transformar em um fazendeiro. Ao longo do tempo você vai plantar, regar e colher vegetais diversos, cuidar de animais, pescar, minerar, fazer amizade com os habitantes da Vila, namorar e se casar com alguém, expandir sua casa, decorar sua fazenda, ter filhos, ganhar o respeito do fantasma de seu avô, fazer maionese, e muito mais. É um jogo absurdamente relaxante, perfeito pra esquecer da vida por algumas horas e também pra ouvir podcasts. Tem dois artigos muito bons sobre o jogo – um da Alexandra Moraes (O Pintinho) e outro da Ana Guadalupe – e os dois tratam sobre essa atração que esse jogo causa.
O quarto é…ah, depois eu falo do quarto, do quinto, do sexto. Mas pra quem curte spoilers, eles são Rimworld (um simulador de base onde você não controla diretamente os personagens), Dying Light (mundo aberto, cidade gigante, zumbis em todos os lugares) e Minecraft (já é batido, mas ainda é o jogo perfeito pra ouvir podcasts).
Pra não passar em branco, mesmo que ninguém leia.
Me enoja essa tentativa de revisionismo histórico, essa tentativa de meter um verniz lustroso em uma escultura feita de bosta. Foi golpe sim, não foi revolução nem contragolpe. Não havia uma ameaça comunista real, não havia nenhuma chance de João Goulart dar um golpe, não havia nada que justificasse. Quando Jango caiu, ele caiu sozinho – foi embora sem resistir, ninguém resistiu com ele naquele 1º de Abril, os militares entraram e tomaram conta sem que ninguém oferecesse resistência. Que contragolpe foi esse então?
Assumam que foi golpe, e assumam seus cadáveres. Assumam os quase 500 mortos “oficiais”, assumam as milhares de pessoas presas e torturadas, as pessoas que desapareceram sem deixar rastro. Assumam os exilados voluntários e involuntários, assumam as arbitrariedades cometidas em todo o país, assumam as tribos dizimadas durante a expansão para o norte/centro-oeste.
E assumam que, mesmo com carta livre pra fazer qualquer coisa que desejassem, os militares só nos deixaram com uma herança maldita. Dívida externa absurda, desigualdade galopante, uma mega-inflação que a gente só foi conseguir resolver em 95 depois de um desfile de planos econômicos e trocas de moeda. Isso sem falar nos esquemas com as mega-empreiteiras que começam durante a ditadura, toda a corrupção que jamais apareceu nos jornais (censura, lembra?).
Não me admira que esse imbecil que sentou no Planalto deseje comemorar o 31 de março. Não esperava nada mais de alguém tão pequeno, que homenageia torturadores e ditadores, que não faz a menor ideia do que é ser presidente e usa seu cargo pras suas pequenezas: demitir fiscal do Ibama que lhe multou, demitir a funcionária da Embratur que OUSOU contratar o show de alguém que defendeu seu opositor.
Sigamos em frente. É preciso sim lembrar do que aconteceu para que não se repita. É preciso honrar quem perdeu a vida lutando contra esses homens torpes, é preciso celebrar quem resistiu de qualquer forma – com luta, com música, com livro, com piada, com sua própria existência (existir em tempos sombrios já é uma forma de resistência). Afinal, talvez o mundo não seja pequeno, nem seja a vida um fato consumado, mas uma certeza eu tenho: que os dinossauros vão desaparecer (gracias, Charly)
Ditadura nunca mais.
Bom, se o pessoal pode fazer o comeback das newsletters, porque eu não posso voltar com meu blog? Na verdade os formatos na internet nunca vão embora de verdade. As coisas caem em relativo desuso, geralmente depois de um período de boom ou hype, mas não desaparecem. Eles servem como base para outros formatos, ou são modificados para atender outras necessidades, outros públicos…até alguém se lembrar que hey, o formato original era bom, vamos voltar com ele. E assim por diante.
Eu sempre adorei o “conceito” dos blogs, a ideia de você ter esses lugares na internet onde você pode ler os pensamentos e opiniões de outras pessoas, e de certa forma interagir com elas. As redes sociais, obviamente, são uma evolução ou uma extrapolação desse conceito – um lugar centralizado onde você pode receber esses inputs de várias pessoas ao mesmo tempo. Mas não são a mesma coisa – cada uma tem um formato diferente, uma proposta diferente, um algoritmo diferente que muda ao sabor dos investidores…
Mas talvez o principal motivo de estar aqui novamente é tentar manter um registro das minhas coisas: do que eu leio, do que eu ouço, do que eu penso. É interessante poder pensar que eu posso vir fuçar aqui daqui alguns anos para lembrar de uma banda que eu ouvi, de uma situação pela qual eu passei, o que seja. Eu sempre fui um nostálgico de merda, daqueles que fica lendo emails antigos e vasculhando pastas velhas no HD – um blog é perfeito pra alimentar essa nostalgia.
Não é que a gente torça contra. É que a gente bateu o olho na partida e já viu que vai dar merda, não adianta você tentar se enganar e se cobrir de positividade e otimismo. Vai dar merda, vista sua hazmat suit à prova de cocô radioativo e se prepare.
É esse festival de pessoas com a absoluta certeza que estão certas, essa troca da ciência pelo senso comum ou pior, por teorias da conspiração. Sempre falo isso, que me assusta como as pessoas aceitam perder suas liberdades rapidinho em nome de um senso de segurança que é só isso, um senso, uma impressão, uma sensação de que vai ficar tudo bem se todos formos bonzinhos e ninguém sair da linha. Os bons cristãos, o cidadão de bem, o homem-de-família, essa coisa hipócrita que a gente sabe que não existe na prática mas serve pra que eles estufem o peito – eu sou o que há de bom nesta terra, ouça minha voz. Essa idealização de um passado que não existiu, essa demonização das pessoas que pensam diferente, essa cristalização do “o nosso jeito é o único jeito certo”.
Um medo: o que eles vão fazer quando suas escolhas não vingarem, não trouxerem os resultados esperados? Toda essa revolta acumulada vai ser direcionada para onde?
Um consolo: somos o país da esculhambação, do deboche. Em plena ditadura repressora e assassina foi quando nosso humor mais brilhou: Febeapá, Pasquim, Henfil, Laerte, Angeli. Eu não acho que vamos passar por aquilo de novo, mas a galera que está lá tem toda uma empáfia que merece ser esmerdalhada com mucho gusto, quanto mais absurda e ridícula a situação se tornar.
(Pô, já tem, essa tirinha do Ricardo Coimbra acerta bem na canela: “Mistura de Black Mirror com Turma do Didi” resume bem essa turma)
Enfim.
Vamos que vamos.
Uma coisa que me surpreendeu em 2018 foi o ressurgimento das newsletters pessoais. Várias pessoas ótimas escrevendo newsletters, me lembra MUITO a atmosfera dos tempos áureos dos blogs.
(A Aline Valek fez um compilado das newsletters que ela curte , é um bom lugar para começar. Pode assinar tudo, na moral!)
Fiquei pensando no motivo desse retorno. Aposto que a grande maioria desse pessoal tinha blog – lembra, blog? Aqueles sites onde a gente escrevia e algumas pessoas liam? Tipo esse aqui? Os blogs morreram alguns anos atrás, substituídos pelas redes sociais – mas aí as redes sociais se mostraram um tanto quanto muito escrotas, mais fechadas do que o esperado, em grande parte invadidas por minions e bots. É claro que o pessoal continuaria a escrever, com as redes sociais ou sem elas – mas porque essa galera escolheu mandar newsletters?
Faz um certo sentido. Ao contrário do facebook, você sabe que quem assinou sua cartinha vai recebê-la – tá, cai no spam, mas você não fica ao sabor do algoritmo. E tem um lance meio romântico, né? Email já é vintage, e as pessoas que estão lendo escolheram ativamente ler o que você escreve. Elas podem te responder também, por email – e é sempre legal receber emails que não sejam de trabalho ou spam.
Em um artigo falando sobre blockchain, o Steven Johnson comenta sobre a resiliência dos protocolos e tecnologias desenvolvidas na “alvorada” da internet – o email, os websites, eles simplesmente não vão embora. Podem até ser relegads a segundo plano por algum tempo, mas eles sempre “voltam” – a tecnologia é boa, e mais importante, ela é aberta. Lembra quando os apps iam substituir os websites? Lembra quando o Facebook se tornaria a própria internet? É uma prova de como a turma do Tim Berners Lee era inteligente e sabia o que estava fazendo.