タヌキの祝福 T-120

Loucos de Cara Vem, vamos sumir...

Que música mais linda, meu Deus do céu. É sempre um gaúcho pra traduzir essas coisas que tocam aqui dentro, vai entender.

Se um dia qualquer
Tudo pulsar num imenso vazio
Coisas saindo do nada
Indo pro nada

Se mais nada existir
Mesmo o que sempre chamamos real
E isso pra ti for tão claro
Que nem percebas

Se um dia qualquer
Ter lucidez for o mesmo que andar
E não notares que andas
O tempo inteiro

É sinal que valeu!
Pega carona no carro que vem
Se ele não vem, não importa
Fica na tua

Videntes loucos de cara
Descrentes loucos de cara
Pirados loucos de cara
Ah, vamos sumir!

(Tem esse vídeo do Vitor Ramil explicando a música, a letra e tudo)

Andor Coisas legais de 2022

Pra mim “The Last Jedi” é o filme que importa da trilogia nova de Star Wars, e o que fizeram no filme seguinte me fez perder o interesse em tudo que veio depois – não vi nenhum dos seriados, comecei o jogo “Fallen Order” só agora, etc. “Last Jedi” colocava a série em uma direção que me interessava – escapando da hegemonia Skywalker, dando importância para personagens menores, mostrando mais do que navinhas e sabres de luz. Mas aí…nhé.

E aí aparece Andor, e Andor é uma OVERDOSE dessas coisas todas. Andor mostra como é a vida das pessoas comuns de uma cidade na periferia do espaço sideral; mostra a burocracia e os joguinhos de poder entre funcionários do baixo escalão do Império; mostra como um movimento revolucionário vai tomando forma aos trancos e barrancos; mostra a relação entre o complexo militar-industrial e sua absoluta necessidade por mão-de-obra à custo zero.

Mais do que isso, é um PUTA seriado MASSA, com arcos de três episódios redondinhos, roteiros bem acabados, personagens bem trabalhados, muitas cenas memoráveis, uns dois ou três discursos pra entrar pra história do Star Wars, e o Andy Serkis mostrando que não precisa de merda nenhuma de roupa mo-cap pra botar pra quebrar.

Try.

É muito massa quando nossos heróis se encontram e se reverenciam! O discurso emocionado do Elvis, o Fito Paez dominando a música, os Imposters…cara, nunca imaginei que isso fosse acontecer!

(Uns anos atrás o Eddie Vedder chamou o Bill Janovitz no palco e eles tocaram “Taillights Fade” juntos – adoro quando meus artistas e bandas favoritos colidem)

Pô, que filme massa! Prey é o exemplo raro de prequel/continuação que dá certo e consegue não dever nada pro original. Aliás, funciona muito bem até pra quem não viu ou não lembra do Predador original – a história de Naru tentando se provar como guerreira da tribo e seu embate com o caçador intergaláctico não precisa do original pra ser entendida e apreciada, ao mesmo tempo que tudo o que vimos nos filmes anteriores está lá. As “regras” do Predador, todas aquelas armas malditas, tá tudo ali. É um filme que vai direto ao ponto, 1h40 de filme de ação sem filler, sem momentos desnecessários, sem cenas pós-créditos. Tá ótimo, meu Deus, um filme de ação realmente BOM e que não envolva super-heróis em 2022. Enfim, assistam.

Caralho, que filme é esse. Peter Sellers é um absurdo. Essa cena final é do caralho – o mundo acabou, só tem o cabal do presidente americano e o Dr. Strangelove discutindo a possibilidade deles se abrigarem em uma mina profunda e começarem a repovoar o planeta. A mão dele, cara, o sorrisinho no rosto enquanto fala essas coisas…é tudo genial para mais de um caralho.

E nem vou entrar na onda de discutir o que é assistir esse filme em pleno Brasil Bozonarista, em plena segunda season da CPI da pandemia.

Descobri o Jack Antonoff meio que por acaso – vendo o documentário sobre o Sparks, ele aparece dizendo que toda música pop atual é só Sparks e Vince Clarke rearranjado. A legenda embaixo do nome dele diz que ele é produtor da Taylor Swift, da Lorde, da Ariana Grande, da Lana del Rey, do St. Vincent – só isso.

Fui conferir a banda dele, o Bleachers – e rapaz, é bem bom. Pop de primeira, refrões do tamanho do mundo falando dos problemas do tamanho da gente (“and say goodbye like you mean it”). Esse clipe é troncinho mas divertido, hahahaha.

Eu absolutamente deixei essa música passar em 2010 e descobri agora, por causa do último número de Phonogram – Singles Club (recomendadíssimo se você gosta de música de algum jeito). Caralho, que música é essa, que performance é essa. Desde já declaro que essa é a melhor música sobre lobisomens no cio já composta na história da humanidade.

Alguns meses atrás eu “descobri” o Arctic Monkeys com alguns anos de atraso – e volto a repetir, esses meninos vão longe, tem futuro! E aí hoje especificamente foi o dia em que eu “descobri” St. Vincent – ótima banda, essa menina Annie Clark vai longe, tem futuro!

(Talvez eu tenha desenvolvido um leeeeeeve crush na Annie Clark, de látex verde, ripando na guitarra, hold me like a weapon – oh well, I can’t turn off what turns me on.)

Eu fiquei tentado a dizer que “Only lovers left alive” (de Jim Jarmusch) é um filme de vampiro pra quem não gosta de vampiro, mas pensando bem não é nada verdade. Na superfície não tem nada muito diferente: os vampiros aqui são vampiros clássicos, seres condenados a viver eternamente, cuja fome de sangue precisa ser saciada constantemente. A diferença é que aqui não temos vampiros adolescentes, aprendendo a viver com seus poderes e suas maldições, gozando e sofrendo na mesma medida, enfim, aquele vampiro trágico já meio batido da Anne Rice e de Vampiro: A Máscara.

Aqui em “Only lovers left alive” nós vemos o lado da velhice entre os vampiros – o casal aqui tem muitos séculos de vida em morte, e já abandonaram todas aquelas dúvidas e inseguranças do jovem vampiro. E que casal, cara – Tilda Swinton e Tom Hiddleston, Adam e Eve, lindos, góticos, apaixonados. Os vampiros de Jarmusch “terceirizaram” a busca constante por sangue, e o que os satisfaz de verdade é arte, ciência, música, as obras sublimes da espécie humana. Não só como admiradores, mas mecenas, influenciadores e guias – como agentes secretos da sombra, auxiliando humanos a atingirem o seu potencial ao mesmo tempo em que os usam como veículos de sua arte.

Adam e Eve vivem afastados – ele em Detroit com suas guitarras clássicas, ela no Tânger colecionando livros originais – e conversam por Skype, já que a modernidade chega para todos. Mas Eve percebe que Adam está chateado e distante, desiludido com o mundo e pensando em seu derradeiro fim, e decide ir visitá-lo em Detroit. O filme parte daí: um reencontro de amantes eternos em uma metrópole abandonada.

“Only lovers left alive” não é um filme de ação eletrizante, não tem uma trama complexa, não tem reviravoltas espetaculares. É um filme sobre seres humanos, sobre o desespero pungente que nos acompanha e do que fazemos para superá-lo, para superar nossos comportamentos mais rasos e tentar alcançar o sublime seja pela arte, pela ciência, pelo amor, pelo que seja.

Também assisti “The Umbrella Academy” e foi legal, daquele jeito sem grandes obrigações e sem grandes expectativas que acaba surpreendendo. É um bom seriado de super-heróis fodidos e desajustados, com um quê de Academia Xavier revisitado para o ambiente millenial (seja lá o que isso quer dizer, me pareceu uma boa ideia escrever isso na hora). Depois de ver a série eu reli parte do primeiro volume do quadrinho e…ó, a série consegue ser mais legal? Eu gosto do quadrinho, mas ele não é nada profundo – é um amontoado de ideias malucas, situações legais e personagens que poderiam ser bacanas se melhor desenvolvidos. O que o seriado faz é justamente desenvolver melhor os personagens e pegar só algumas das ideias malucas, e isso acaba funcionando surpreendentemente bem.

(Uma coisa que eu não gostei na série: o personagem da Ellen Page é muito chato. Desperdiçaram uma puta atriz em uma personagem que poderia ter sido escrita de outro jeito, talvez menos passivo e mais “screw you guys, i’m going home”, dona de si. Ellen Page merecia um personagem melhor, e o seriado merecia uma vilã de verdade).

Russian Doll é “Groundhog Day” com menos Bill Murray e mais Nova York, e trocando a Cher pelo Harry Nilsson. Toda sua atmosfera é fantástica: os personagens estranhos do jeito certo, os diálogos cheios de frases notáveis e anotáveis, a trilha sonora perfeita. É uma daquelas obras capaz de causar um grau de identificação com o espectador, da pessoa pensar “Ei, eu me vejo aqui” ou “Ei, eu quero me ver aqui”, e esse tipo de obra é sempre legal – mesmo que você não seja exatamente a pessoa que se identifica. Ei, eu não tenho nada a ver com Nadia e com a Nova York dela, mas consigo entender o apelo – é legal, é cosmopolita, é massa.

Não vou ficar aqui explicando a história porque 1) esse é um bom seriado de assistir no esquema “não sei de nada, me surpreenda” e 2) já dei a deixa ali em cima, “Groundhog Day” mas diferente. Mas enfim, assistam, vale muito a pena, seja pelo charme Rê Bordosa da Nadia, seja pela trama insólita, seja pela atmosfera absolutamente cool.

Sabe aquela banda que todo mundo fala super bem, é totalmente super influente, você sabe que deveria gostar mas…não rola? Uma dessas bandas pra mim é o Smiths. Em tese eu deveria amar Smiths: eu fui um adolescente criado a base de Legião Urbana e desilusões amorosas, é natural que eu procurasse a fonte deles. Mas alguma coisa nunca clicou e eu acabei ficando com o produto brasileiro, apesar de adorar certas músicas – eu poderia ouvir “Ask” por dias a fio, com aquele gancho maravilhoso e aquela hora do “se não for o amor que vai nos juntar, então será a bomba atômica”.

Essa versão de “There Is A Light That Never Goes Out” é maravilhosa – a voz rouca da moça, a instrumentação mais esparsa, o tecladinho fantasmagórico, até o estilo do vídeo com um ar de televisão nos anos 80.

Segundo o Last.FM, essa foi a música que eu mais ouvi em 2018. Acho que eu li um tweet falando muito bem dessa banda, joguei no Youtube e – bah, que clipe, que música, que letra. Os caras são muito bons.

I wanna be king until I am
A man is just a man, I understand
Has everything gone to plan?
Don’t say it out loud – just let me dance

Esse canal é bem interessante! Sobre a vida no Japão do ponto de vista de um canadense (?) que mora lá com a esposa e seus dois filhos. Cada vídeo é sobre um aspecto diferente: como é morar lá, como é trabalhar, como é se deslocar por lá, como é comer por lá, como são os banheiros…

Os episódios são bem produzidos, com imagens bem bacanas e explicações interessantes, além do narrador e de sua família serem bem simpáticos.