タヌキの祝福 T-120

Night in the Woods Infinite Fall

Night in the Woods é um jogo sobre voltar pra sua cidadezinha no interior e descobrir que algumas coisas nunca mudam e que outras coisas simplesmente…se vão. Mae Borowski se parece comigo de alguns jeitos – eu consigo me imaginar largando a faculdade sem prestar atenção no que isso poderia causar nas finanças da casa, e talvez eu tenha feito algo um tanto parecido. E em alguns momentos eu sonho voltar pra cidade onde eu gostava de morar, sair bandeando sem rumo com os amigos como se a faculdade nunca tivesse acabado, como se a gente ainda tivesse vinte anos e nada. E uma coisa que NITW faz muito bem é dar pra vida pra esse bandinho de amigos, aliás, pra  todos os personagens: seus amigos, seus pais, os vizinhos, até os personagens aleatórios andando no meio da rua tem diálogos interessantes. Tem o melhor-amigo-pra-sempre Gregg, tem o Angus (namorado do Gregg), tem a moça-sua-vizinha que escreve poesia e faz bicos pra sobreviver, tem o seu ex-professor observando estrelas no telhado da casa, tem o ratinho-estranho viciado em filmes de terror…são muitas personalidades pra uma cidade tão pequena.

Além disso, é um dos raros jogos que se propõe a refletir sobre os efeitos do capitalismo nas cidadezinhas e nas pessoas que vivem nelas. Possum Springs já foi uma cidade muito rica, movida pela mineração, até que um dia as mineradoras simplesmente foram embora. Quem ficou se vira como pode, em um ambiente cada vez mais deserto de alternativas. O supermercado da cidade faliu; a pizzaria favorita da Mae fechou; os empregos existentes pagam pouco; seus melhores amigos planejam ir pra cidades maiores. Não é tão distante de Araçatuba, não é tão distante de nenhum lugar. E em nenhum momento o jogo evita tocar na ferida: o motivo disso tudo é o capitalismo. É um jogo bem Mark Fisher das ideias, mas sem resvalar pro pessimismo (ainda bem).

Enfim, Night in the Woods é um puta jogo. Curtinho de tudo, lindo de tudo, com personagens mais do que simpáticos e com mensagens importantes pra dizer, sem cair no didatismo e sem tornar sua mensagem inofensiva.

Participe da discussão

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.