“Subnautica: Below Zero” é um dos jogos mais lindos que eu já joguei – os biomas são lindos, a flora é maravilhosa, e a fauna tem baleias. Eu adoro baleias, cara.
Yakuza 0 foi o primeiro da série que joguei, e foi paixão à primeira vista. Fazia tempo que eu não entrava de cabeça em um jogo, não me interessava tanto em uma história, não me importava tanto com os personagens e não me divertia tanto com as bizarrices da coisa toda. Yakuza 0 é maravilhoso, puta merda. Na superfície é uma história de yakuza com tudo aquilo que a gente espera: violência, gangsters, lealdade, traição, perseguições, dedinhos cortados, tatuagens de corpo inteiro, porradaria indiscriminada. Não é nada revolucionário, na verdade é bem clichê, mas é um clichê tão legal que – fuck it, let’s go! O jogo se sustenta na força de seus personagens: os dois protagonistas são absurdamente carismáticos (de maneiras totalmente opostas), e uma vez que a história começa você quer saber o que diabos vai acontecer com eles.
Fora da história principal, tem todo um universo de sidequests e atividades secundárias que fazem Yakuza ser Yakuza e mostrar toda a sua maluquice. As sidequests são…putz, cara, tem uma sidequest que envolve um pedido de casamento via palavras cruzadas; tem outra que envolve as vovós taradas de Osaka; tem uma quest meio stealth onde você deve…comprar uma revista pornô para uma criança(!!); tem outra onde você deve ensinar uma dominatriz a ser mais dominante com seus clientes. Eu poderia ficar aqui listando todas as quests do jogo, mas acho que dá pra ter uma ideia. Além das quests, tem atividades secundárias e mini-games mais longos – o melhor de todos é o Cabaret Club, que envolve…gerenciar um Cabaret Club, e se tornar o maior Cabaret Club de Osaka. É massa.
Enfim, Yakuza 0 é maravilhoso, é massa, é legal demais. Esse vídeo talvez explique ainda melhor o espírito do jogo:
Night in the Woods é um jogo sobre voltar pra sua cidadezinha no interior e descobrir que algumas coisas nunca mudam e que outras coisas simplesmente…se vão. Mae Borowski se parece comigo de alguns jeitos – eu consigo me imaginar largando a faculdade sem prestar atenção no que isso poderia causar nas finanças da casa, e talvez eu tenha feito algo um tanto parecido. E em alguns momentos eu sonho voltar pra cidade onde eu gostava de morar, sair bandeando sem rumo com os amigos como se a faculdade nunca tivesse acabado, como se a gente ainda tivesse vinte anos e nada. E uma coisa que NITW faz muito bem é dar pra vida pra esse bandinho de amigos, aliás, pra todos os personagens: seus amigos, seus pais, os vizinhos, até os personagens aleatórios andando no meio da rua tem diálogos interessantes. Tem o melhor-amigo-pra-sempre Gregg, tem o Angus (namorado do Gregg), tem a moça-sua-vizinha que escreve poesia e faz bicos pra sobreviver, tem o seu ex-professor observando estrelas no telhado da casa, tem o ratinho-estranho viciado em filmes de terror…são muitas personalidades pra uma cidade tão pequena.
Além disso, é um dos raros jogos que se propõe a refletir sobre os efeitos do capitalismo nas cidadezinhas e nas pessoas que vivem nelas. Possum Springs já foi uma cidade muito rica, movida pela mineração, até que um dia as mineradoras simplesmente foram embora. Quem ficou se vira como pode, em um ambiente cada vez mais deserto de alternativas. O supermercado da cidade faliu; a pizzaria favorita da Mae fechou; os empregos existentes pagam pouco; seus melhores amigos planejam ir pra cidades maiores. Não é tão distante de Araçatuba, não é tão distante de nenhum lugar. E em nenhum momento o jogo evita tocar na ferida: o motivo disso tudo é o capitalismo. É um jogo bem Mark Fisher das ideias, mas sem resvalar pro pessimismo (ainda bem).
Enfim, Night in the Woods é um puta jogo. Curtinho de tudo, lindo de tudo, com personagens mais do que simpáticos e com mensagens importantes pra dizer, sem cair no didatismo e sem tornar sua mensagem inofensiva.