タヌキの祝福 T-120

Ra Sam Hughes

“Ra” começa com uma premissa simples: e se a magia fosse uma disciplina mais parecida com engenharia ou programação? Nesse universo a magia é regida por leis e constantes, e foi descoberta há 30 anos atrás. É um campo em constante evolução, cujas teorias ainda estão sendo pesquisadas, escritas e testadas, mas cujo uso prático começa a demonstrar seu potencial. Nesse contexto nós acompanhamos Laura Fern, estudante de magia. Sua mãe morreu tentando usar a magia para conseguir atingir o espaço sideral, e Laura quer seguir seus passos, obter sucesso onde ela falhou…

Esse poderia ser o resumo do livro, e é. Mas aí em certo ponto o livro muda – como se alguém desse uma viradinha na realidade. E aí depois de outro certo ponto, alguém dá um petelecão na realidade. E a partir daí eu não consegui mais parar de ler.

  • Já tentei gostar do som do Criolo por conta do nome do álbum “Convoque seu Buda”, mas não rolou. Continuo achando o título o máximo: convoque seu Buda, keep your cool, sossega, etc.
  • Em termos de rap paulistano eu simpatizo um monte com o Emicida mas gosto de umas três músicas, e gosto mesmo é do Rincon, tanto pela batida das músicas quanto pelas letras e pelo jeito como ele canta.
  • Volta e meia eu sempre tento gostar de rap americano, mas nunca vou longe. Na última tentativa o saldo pelo menos foi positivo: eu descobri que o primeiro álbum do De La Soul é fantástico demais da conta, sô!
  • Domingos continuam sendo a grande hora de chá da alma, e domingos véspera de retorno ao trabalho se qualificam duplamente. Passei o dia com eu, eu mesmo e minha ansiedade.
  • No mais, tô gostando bastante dessa experiência de ter um blog de novo e conseguir postar nele. A ideia dele ser um lugar onde eu vou tacando as coisas que eu gosto, que me interessam e que de alguma maneira eu quero salvar de certa forma tiram aquela obrigação de “eu preciso escrever um textaralho falando da situação atual do país”.
  • Por agora é isso. Sejam excelentes uns com os outros, e lembrem-se de rebobinar a fita antes de devolvê-la.

Sabe aquela banda que todo mundo fala super bem, é totalmente super influente, você sabe que deveria gostar mas…não rola? Uma dessas bandas pra mim é o Smiths. Em tese eu deveria amar Smiths: eu fui um adolescente criado a base de Legião Urbana e desilusões amorosas, é natural que eu procurasse a fonte deles. Mas alguma coisa nunca clicou e eu acabei ficando com o produto brasileiro, apesar de adorar certas músicas – eu poderia ouvir “Ask” por dias a fio, com aquele gancho maravilhoso e aquela hora do “se não for o amor que vai nos juntar, então será a bomba atômica”.

Essa versão de “There Is A Light That Never Goes Out” é maravilhosa – a voz rouca da moça, a instrumentação mais esparsa, o tecladinho fantasmagórico, até o estilo do vídeo com um ar de televisão nos anos 80.

Bom, se o pessoal pode fazer o comeback das newsletters, porque eu não posso voltar com meu blog? Na verdade os formatos na internet nunca vão embora de verdade. As coisas caem em relativo desuso, geralmente depois de um período de boom ou hype, mas não desaparecem. Eles servem como base para outros formatos, ou são modificados para atender outras necessidades, outros públicos…até alguém se lembrar que hey, o formato original era bom, vamos voltar com ele. E assim por diante.

Eu sempre adorei o “conceito” dos blogs, a ideia de você ter esses lugares na internet onde você pode ler os pensamentos e opiniões de outras pessoas, e de certa forma interagir com elas. As redes sociais, obviamente, são uma evolução ou uma extrapolação desse conceito – um lugar centralizado onde você pode receber esses inputs de várias pessoas ao mesmo tempo. Mas não são a mesma coisa – cada uma tem um formato diferente, uma proposta diferente, um algoritmo diferente que muda ao sabor dos investidores…

Mas talvez o principal motivo de estar aqui novamente é tentar manter um registro das minhas coisas: do que eu leio, do que eu ouço, do que eu penso. É interessante poder pensar que eu posso vir fuçar aqui daqui alguns anos para lembrar de uma banda que eu ouvi, de uma situação pela qual eu passei, o que seja. Eu sempre fui um nostálgico de merda, daqueles que fica lendo emails antigos e vasculhando pastas velhas no HD – um blog é perfeito pra alimentar essa nostalgia.

Segundo o Last.FM, essa foi a música que eu mais ouvi em 2018. Acho que eu li um tweet falando muito bem dessa banda, joguei no Youtube e – bah, que clipe, que música, que letra. Os caras são muito bons.

I wanna be king until I am
A man is just a man, I understand
Has everything gone to plan?
Don’t say it out loud – just let me dance

Esse canal é bem interessante! Sobre a vida no Japão do ponto de vista de um canadense (?) que mora lá com a esposa e seus dois filhos. Cada vídeo é sobre um aspecto diferente: como é morar lá, como é trabalhar, como é se deslocar por lá, como é comer por lá, como são os banheiros…

Os episódios são bem produzidos, com imagens bem bacanas e explicações interessantes, além do narrador e de sua família serem bem simpáticos.

Witches of Lychford Paul Cornell

Pra quem ficou orfão das Bruxas de Terry Pratchett, “The Witches of Lychford” não chega a ser um substituto – mas vale a leitura. Entra naquela classificação de “livro sobre cidade pequena ameaçada por forças ocultas”, tão comum nos livros do Stephen King, com a diferença que o cenário aqui é uma cidadezinha inglesa. A construção de um hipermercado divide a população do lugar, ao mesmo tempo em que ameaça a fronteira entre o nosso mundo e os outros. Who you’re gonna call? As bruxas do lugar, é claro! Mais um livro curto – acho que entra naquela classificação de “novella” ou próximo disso.

Não é que a gente torça contra. É que a gente bateu o olho na partida e já viu que vai dar merda, não adianta você tentar se enganar e se cobrir de positividade e otimismo. Vai dar merda, vista sua hazmat suit à prova de cocô radioativo e se prepare.

É esse festival de pessoas com a absoluta certeza que estão certas, essa troca da ciência pelo senso comum ou pior, por teorias da conspiração. Sempre falo isso, que me assusta como as pessoas aceitam perder suas liberdades rapidinho em nome de um senso de segurança que é só isso, um senso, uma impressão, uma sensação de que vai ficar tudo bem se todos formos bonzinhos e ninguém sair da linha. Os bons cristãos, o cidadão de bem, o homem-de-família, essa coisa hipócrita que a gente sabe que não existe na prática mas serve pra que eles estufem o peito – eu sou o que há de bom nesta terra, ouça minha voz. Essa idealização de um passado que não existiu, essa demonização das pessoas que pensam diferente, essa cristalização do “o nosso jeito é o único jeito certo”.

Um medo: o que eles vão fazer quando suas escolhas não vingarem, não trouxerem os resultados esperados? Toda essa revolta acumulada vai ser direcionada para onde?

Um consolo: somos o país da esculhambação, do deboche. Em plena ditadura repressora e assassina foi quando nosso humor mais brilhou: Febeapá, Pasquim, Henfil, Laerte, Angeli. Eu não acho que vamos passar por aquilo de novo, mas a galera que está lá tem toda uma empáfia que merece ser esmerdalhada com mucho gusto, quanto mais absurda e ridícula a situação se tornar.

(Pô, já tem, essa tirinha do Ricardo Coimbra acerta bem na canela: “Mistura de Black Mirror com Turma do Didi” resume bem essa turma)

Enfim.
Vamos que vamos.

Uma coisa que me surpreendeu em 2018 foi o ressurgimento das newsletters pessoais. Várias pessoas ótimas escrevendo newsletters, me lembra MUITO a atmosfera dos tempos áureos dos blogs.

(A Aline Valek fez um compilado das newsletters que ela curte , é um bom lugar para começar. Pode assinar tudo, na moral!)

Fiquei pensando no motivo desse retorno. Aposto que a grande maioria desse pessoal tinha blog – lembra, blog? Aqueles sites onde a gente escrevia e algumas pessoas liam? Tipo esse aqui? Os blogs morreram alguns anos atrás, substituídos pelas redes sociais – mas aí as redes sociais se mostraram um tanto quanto muito escrotas, mais fechadas do que o esperado, em grande parte invadidas por minions e bots. É claro que o pessoal continuaria a escrever, com as redes sociais ou sem elas – mas porque essa galera escolheu mandar newsletters?

Faz um certo sentido. Ao contrário do facebook, você sabe que quem assinou sua cartinha vai recebê-la – tá, cai no spam, mas você não fica ao sabor do algoritmo. E tem um lance meio romântico, né? Email já é vintage, e as pessoas que estão lendo escolheram ativamente ler o que você escreve. Elas podem te responder também, por email – e é sempre legal receber emails que não sejam de trabalho ou spam.

Em um artigo falando sobre blockchain, o Steven Johnson comenta sobre a resiliência dos protocolos e tecnologias desenvolvidas na “alvorada” da internet – o email, os websites, eles simplesmente não vão embora. Podem até ser relegads a segundo plano por algum tempo, mas eles sempre “voltam” – a tecnologia é boa, e mais importante, ela é aberta. Lembra quando os apps iam substituir os websites? Lembra quando o Facebook se tornaria a própria internet? É uma prova de como a turma do Tim Berners Lee era inteligente e sabia o que estava fazendo.

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