タヌキの祝福 T-120

Caralho, que filme é esse. Peter Sellers é um absurdo. Essa cena final é do caralho – o mundo acabou, só tem o cabal do presidente americano e o Dr. Strangelove discutindo a possibilidade deles se abrigarem em uma mina profunda e começarem a repovoar o planeta. A mão dele, cara, o sorrisinho no rosto enquanto fala essas coisas…é tudo genial para mais de um caralho.

E nem vou entrar na onda de discutir o que é assistir esse filme em pleno Brasil Bozonarista, em plena segunda season da CPI da pandemia.

Descobri o Jack Antonoff meio que por acaso – vendo o documentário sobre o Sparks, ele aparece dizendo que toda música pop atual é só Sparks e Vince Clarke rearranjado. A legenda embaixo do nome dele diz que ele é produtor da Taylor Swift, da Lorde, da Ariana Grande, da Lana del Rey, do St. Vincent – só isso.

Fui conferir a banda dele, o Bleachers – e rapaz, é bem bom. Pop de primeira, refrões do tamanho do mundo falando dos problemas do tamanho da gente (“and say goodbye like you mean it”). Esse clipe é troncinho mas divertido, hahahaha.

Hoje eu vi uma notícia que a Livraria Cultura fechou em Salvador, e lendo eu descobri que a Saraiva que existia no Salvador Shopping já havia fechado faz algum tempo. Cara, que chute nos bagos…

Eu fui morar em Salvador em 2008, participar de um programa de trainee na firma em que meu pai trabalhava. Foi meu primeiro trabalho de verdade, e eu ganhava razoavelmente bem dentro dos parâmetros da época. E te falar, boa parte desse dinheiro era despejada sem muita parcimônia lá na Saraiva. Entendam, no interior não existia nem livraria direito, haviam papelarias que vendiam uns livros lá e só. A Saraiva foi a primeira megastore que eu fui na vida e foi paixão à primeira vista. Livros e mais livros, uma seção enorme de quadrinhos, uma seção de CDs que era maior do que todas as 3 lojas de Araçatuba juntas…e o ambiente era incrível, era gostoso ficar zanzando por lá, sentar numa poltrona e ficar folheando alguma coisa, ou só ficar escavando as prateleiras. Um pouco depois eu fui conhecer a Cultura do Conjunto Nacional e vi que a Saraiva de Salvador era pitititica, mas era a MINHA livraria. Quantas vezes eu saí do trabalho e fui direto pra lá, seja pra esperar os congestionamentos no Iguatemi abaixarem, seja pra comprar alguma coisa mesmo. Enfim, era meu templo do consumo, e foi uma época muito boa – Salvador era incrível, e eu sinto saudades de lá.

Mas não é só lá, né? Mandaram o país inteiro pro caralho pra enriquecer meia dúzia de filhos da puta, e cá estamos passando pelo inferno com um imbecil no comando enquanto os outros imbecis desmontam o que restou do país. A Saraiva fechando em Salvador é o menor de nossos problemas – mas dói aqui em mim. Faz parte da minha ideia do país que poderíamos ter sido, do país que nos foi roubado.

If You’re Feeling Sinister Belle and Sebastian

Eu redescobri esse disco ano passado, graças a Phonogram (a série em quadrinhos de Kieron & Mckelvie, preciso falar dela no blog também) – na verdade Phonogram me fez ouvir Campesinos de novo, e Campesinos me fez ouvir Belle and Sebastian de novo. É um disco lindo, com umas melodias lindas e umas letras irônicas (e lindas), que não dá pra ouvir sem tentar imitar as harmonias. É meu disco preferido deles, e confesso que não gosto muito de nenhum outro – houve uma vez um verão em que eu ouvi o “Dear Catastrophe Waitress” trocentas vezes, mas a única música que ficou foi “Step into my office, baby” e ela nem é tão boa assim. É enjoativa, meio boba, sei lá. Isso não acontece com as músicas boas de “If you’re feeling sinister”, principalmente com a música título – que eu já devo ter ouvido umas cinco vezes desde que comecei a escrever isso aqui.

Belle and Sebastian era uma banda que sempre era citada na Bizz e nos blogs que eu lia lá em 2000 e nada. Nessa época eu varava as noites na internet, baixando músicas que apareciam na Bizz, ou que alguém falou bem em um blog, ouvindo coisas que se não fosse o Napster e a pirataria em geral eu jamais ouviria. E era uma época bem mágica, que eu só fui perceber que foi mágica anos e anos depois, pois havia um monte de bandas ótimas explodindo. Pô, eu ouvi Strokes na época do primeiro E.P., as músicas ainda cruas e totalmente cheias de energia – que eu gravei num CD-R e ouvia nas viagens de ida e volta pra Ilha Solteira. Enfim, era massa, acho que rende um post só sobre isso mais tarde.

Hilary went to her death because she couldn’t think of anything to say
Everybody thought that she was boring, so they never listened anyway
Nobody was really saying anything of interest, she fell asleep
She was into S&M and bible studies, not everyone’s cup of tea (she would admit to me)

 

38

You’re older than you’ve ever been
And now you’re even older
And now you’re even older
And now you’re even older.
You’re older than you’ve ever been
And now you’re even older,
And now you’re older still.

Time!… is marching on,
And time… is still marching on!

(repetir ad infinitum)

Tem alguns estilos de música que você ouve e diz “hey, isso aqui é meu!”. Tudo bate certinho, você parece conseguir adivinhar pra onde vão as notas, e quando você vê já botou no repeat sem dó. “Frosting on the Beater” foi assim, esse disco maravilhoso que eu resgatei lá de 1993 pra mim. É alt-rock estilo anos 90, lembra Teenage Fanclub mas é diferente, é power pop puxado pro rock da época – sei lá, não sou crítico musical, eu só gosto das paradas. “Solar Sister” eu ouvi quinhentas vezes no último mês; mas “Flavor of the Month” e “Definite Door” não ficam atrás.

Yakuza 0 Ryu Ga Gotoku Studio

Yakuza 0 foi o primeiro da série que joguei, e foi paixão à primeira vista. Fazia tempo que eu não entrava de cabeça em um jogo, não me interessava tanto em uma história, não me importava tanto com os personagens e não me divertia tanto com as bizarrices da coisa toda. Yakuza 0 é maravilhoso, puta merda. Na superfície é uma história de yakuza com tudo aquilo que a gente espera: violência, gangsters, lealdade, traição, perseguições, dedinhos cortados, tatuagens de corpo inteiro, porradaria indiscriminada. Não é nada revolucionário, na verdade é bem clichê, mas é um clichê tão legal que – fuck it, let’s go! O jogo se sustenta na força de seus personagens: os dois protagonistas são absurdamente carismáticos (de maneiras totalmente opostas), e uma vez que a história começa você quer saber o que diabos vai acontecer com eles.

Fora da história principal, tem todo um universo de sidequests e atividades secundárias que fazem Yakuza ser Yakuza e mostrar toda a sua maluquice. As sidequests são…putz, cara, tem uma sidequest que envolve um pedido de casamento via palavras cruzadas; tem outra que envolve as vovós taradas de Osaka; tem uma quest meio stealth onde você deve…comprar uma revista pornô para uma criança(!!); tem outra onde você deve ensinar uma dominatriz a ser mais dominante com seus clientes. Eu poderia ficar aqui listando todas as quests do jogo, mas acho que dá pra ter uma ideia. Além das quests, tem atividades secundárias e mini-games mais longos – o melhor de todos é o Cabaret Club, que envolve…gerenciar um Cabaret Club, e se tornar o maior Cabaret Club de Osaka. É massa.

Enfim, Yakuza 0 é maravilhoso, é massa, é legal demais. Esse vídeo talvez explique ainda melhor o espírito do jogo:

Night in the Woods Infinite Fall

Night in the Woods é um jogo sobre voltar pra sua cidadezinha no interior e descobrir que algumas coisas nunca mudam e que outras coisas simplesmente…se vão. Mae Borowski se parece comigo de alguns jeitos – eu consigo me imaginar largando a faculdade sem prestar atenção no que isso poderia causar nas finanças da casa, e talvez eu tenha feito algo um tanto parecido. E em alguns momentos eu sonho voltar pra cidade onde eu gostava de morar, sair bandeando sem rumo com os amigos como se a faculdade nunca tivesse acabado, como se a gente ainda tivesse vinte anos e nada. E uma coisa que NITW faz muito bem é dar pra vida pra esse bandinho de amigos, aliás, pra  todos os personagens: seus amigos, seus pais, os vizinhos, até os personagens aleatórios andando no meio da rua tem diálogos interessantes. Tem o melhor-amigo-pra-sempre Gregg, tem o Angus (namorado do Gregg), tem a moça-sua-vizinha que escreve poesia e faz bicos pra sobreviver, tem o seu ex-professor observando estrelas no telhado da casa, tem o ratinho-estranho viciado em filmes de terror…são muitas personalidades pra uma cidade tão pequena.

Além disso, é um dos raros jogos que se propõe a refletir sobre os efeitos do capitalismo nas cidadezinhas e nas pessoas que vivem nelas. Possum Springs já foi uma cidade muito rica, movida pela mineração, até que um dia as mineradoras simplesmente foram embora. Quem ficou se vira como pode, em um ambiente cada vez mais deserto de alternativas. O supermercado da cidade faliu; a pizzaria favorita da Mae fechou; os empregos existentes pagam pouco; seus melhores amigos planejam ir pra cidades maiores. Não é tão distante de Araçatuba, não é tão distante de nenhum lugar. E em nenhum momento o jogo evita tocar na ferida: o motivo disso tudo é o capitalismo. É um jogo bem Mark Fisher das ideias, mas sem resvalar pro pessimismo (ainda bem).

Enfim, Night in the Woods é um puta jogo. Curtinho de tudo, lindo de tudo, com personagens mais do que simpáticos e com mensagens importantes pra dizer, sem cair no didatismo e sem tornar sua mensagem inofensiva.

Dial-a-song: 20 Years of TMBG They Might Be Giants

Hmmm, e pensar que a coletânea de 20 anos do They Might Be Giants está quase…completando 20 anos! Ironias do destino à parte, esse disco é fantástico. É uma introdução fantástica pra quem quiser descobrir que diabos é TMBG e quem diabos são esses dois maluquinhos. Passa pelos “hits” essenciais, passa pelos temas de TV e cinema, passa pelas músicas anarco-infantis, passa por diversas coisas esquisitas e que, se você for uma pessoa esquisita e/ou com propensão a gostar de coisas esquisitas, com certeza te convencerão a mergulhar mais fundo.

Detalhes legais dessa coletânea: tem uma versão ao vivo de “Stormy Pinkness” que é amor em estado bruto; tem uma versão ao vivo de “She’s Actual Size” com um solo interativo de bateria; e tem todas as mini-músicas de Fintertips reunidas em uma única faixa. Mais bacana impossível!

Eu absolutamente deixei essa música passar em 2010 e descobri agora, por causa do último número de Phonogram – Singles Club (recomendadíssimo se você gosta de música de algum jeito). Caralho, que música é essa, que performance é essa. Desde já declaro que essa é a melhor música sobre lobisomens no cio já composta na história da humanidade.

Eu não posto nesse blog desde fevereiro, sheesh. E o que aconteceu de lá até aqui? Ah, criança…

Aconteceu uma pandemia, bicho. Acho que em fevereiro a gente ouvia as notícias da China mas não imaginava que chegaria aqui. Até que chegou na Itália, até que chegou na Espanha, até que…bum, chegou aqui. Atualmente temos 10 mil mortos, um número absurdo de infectados e uma subnotificação que não nos permite saber quão profundo é o buraco da minhoca. Ah, e temos um presidente que prefere andar de jet-ski do que encarar seus problemas. Mas pro inferno com ele.

Aqui no apartamento nós começamos o isolamento em 15 de março. Hoje é 10 de maio – quase 2 meses de quarentena. Aqui em casa é fácil: eu, meu irmão e minha tia não saímos de casa pra nada, conseguimos pedir tudo o que precisamos com facilidade, meu trabalho tem garantido grana o bastante para nossas necessidades e o mercado de sites continua aquecido. Minha preocupação maior são meus pais, lá em Araçatuba, sozinhos – eu tenho medo deles não levarem a situação a sério e se exporem. O vírus não chegou lá ainda com toda sua força, e as pessoas começam a sentir uma falsa segurança que é bem perigosa. Todo dia eu falo com eles pra ver como tudo está indo.

E é isso, por ora. Jogando o jogo da espera, rezando para que ninguém muito próximo pegue essa merda (duas pessoas da FIB pegaram :/ ), rezando pra que o filho da puta que infecta o planalto não tente um golpe de estado. Esse post vai ser bem diarinho from the pandemic front, pra lembrar de que isso ocorreu, e de que estávamos assim por esses dias.

1 2 3 4 5