タヌキの祝福 T-120

Hoje eu vi uma notícia que a Livraria Cultura fechou em Salvador, e lendo eu descobri que a Saraiva que existia no Salvador Shopping já havia fechado faz algum tempo. Cara, que chute nos bagos…

Eu fui morar em Salvador em 2008, participar de um programa de trainee na firma em que meu pai trabalhava. Foi meu primeiro trabalho de verdade, e eu ganhava razoavelmente bem dentro dos parâmetros da época. E te falar, boa parte desse dinheiro era despejada sem muita parcimônia lá na Saraiva. Entendam, no interior não existia nem livraria direito, haviam papelarias que vendiam uns livros lá e só. A Saraiva foi a primeira megastore que eu fui na vida e foi paixão à primeira vista. Livros e mais livros, uma seção enorme de quadrinhos, uma seção de CDs que era maior do que todas as 3 lojas de Araçatuba juntas…e o ambiente era incrível, era gostoso ficar zanzando por lá, sentar numa poltrona e ficar folheando alguma coisa, ou só ficar escavando as prateleiras. Um pouco depois eu fui conhecer a Cultura do Conjunto Nacional e vi que a Saraiva de Salvador era pitititica, mas era a MINHA livraria. Quantas vezes eu saí do trabalho e fui direto pra lá, seja pra esperar os congestionamentos no Iguatemi abaixarem, seja pra comprar alguma coisa mesmo. Enfim, era meu templo do consumo, e foi uma época muito boa – Salvador era incrível, e eu sinto saudades de lá.

Mas não é só lá, né? Mandaram o país inteiro pro caralho pra enriquecer meia dúzia de filhos da puta, e cá estamos passando pelo inferno com um imbecil no comando enquanto os outros imbecis desmontam o que restou do país. A Saraiva fechando em Salvador é o menor de nossos problemas – mas dói aqui em mim. Faz parte da minha ideia do país que poderíamos ter sido, do país que nos foi roubado.

If You’re Feeling Sinister Belle and Sebastian

Eu redescobri esse disco ano passado, graças a Phonogram (a série em quadrinhos de Kieron & Mckelvie, preciso falar dela no blog também) – na verdade Phonogram me fez ouvir Campesinos de novo, e Campesinos me fez ouvir Belle and Sebastian de novo. É um disco lindo, com umas melodias lindas e umas letras irônicas (e lindas), que não dá pra ouvir sem tentar imitar as harmonias. É meu disco preferido deles, e confesso que não gosto muito de nenhum outro – houve uma vez um verão em que eu ouvi o “Dear Catastrophe Waitress” trocentas vezes, mas a única música que ficou foi “Step into my office, baby” e ela nem é tão boa assim. É enjoativa, meio boba, sei lá. Isso não acontece com as músicas boas de “If you’re feeling sinister”, principalmente com a música título – que eu já devo ter ouvido umas cinco vezes desde que comecei a escrever isso aqui.

Belle and Sebastian era uma banda que sempre era citada na Bizz e nos blogs que eu lia lá em 2000 e nada. Nessa época eu varava as noites na internet, baixando músicas que apareciam na Bizz, ou que alguém falou bem em um blog, ouvindo coisas que se não fosse o Napster e a pirataria em geral eu jamais ouviria. E era uma época bem mágica, que eu só fui perceber que foi mágica anos e anos depois, pois havia um monte de bandas ótimas explodindo. Pô, eu ouvi Strokes na época do primeiro E.P., as músicas ainda cruas e totalmente cheias de energia – que eu gravei num CD-R e ouvia nas viagens de ida e volta pra Ilha Solteira. Enfim, era massa, acho que rende um post só sobre isso mais tarde.

Hilary went to her death because she couldn’t think of anything to say
Everybody thought that she was boring, so they never listened anyway
Nobody was really saying anything of interest, she fell asleep
She was into S&M and bible studies, not everyone’s cup of tea (she would admit to me)

 

38

You’re older than you’ve ever been
And now you’re even older
And now you’re even older
And now you’re even older.
You’re older than you’ve ever been
And now you’re even older,
And now you’re older still.

Time!… is marching on,
And time… is still marching on!

(repetir ad infinitum)

Tem alguns estilos de música que você ouve e diz “hey, isso aqui é meu!”. Tudo bate certinho, você parece conseguir adivinhar pra onde vão as notas, e quando você vê já botou no repeat sem dó. “Frosting on the Beater” foi assim, esse disco maravilhoso que eu resgatei lá de 1993 pra mim. É alt-rock estilo anos 90, lembra Teenage Fanclub mas é diferente, é power pop puxado pro rock da época – sei lá, não sou crítico musical, eu só gosto das paradas. “Solar Sister” eu ouvi quinhentas vezes no último mês; mas “Flavor of the Month” e “Definite Door” não ficam atrás.

Yakuza 0 Ryu Ga Gotoku Studio

Yakuza 0 foi o primeiro da série que joguei, e foi paixão à primeira vista. Fazia tempo que eu não entrava de cabeça em um jogo, não me interessava tanto em uma história, não me importava tanto com os personagens e não me divertia tanto com as bizarrices da coisa toda. Yakuza 0 é maravilhoso, puta merda. Na superfície é uma história de yakuza com tudo aquilo que a gente espera: violência, gangsters, lealdade, traição, perseguições, dedinhos cortados, tatuagens de corpo inteiro, porradaria indiscriminada. Não é nada revolucionário, na verdade é bem clichê, mas é um clichê tão legal que – fuck it, let’s go! O jogo se sustenta na força de seus personagens: os dois protagonistas são absurdamente carismáticos (de maneiras totalmente opostas), e uma vez que a história começa você quer saber o que diabos vai acontecer com eles.

Fora da história principal, tem todo um universo de sidequests e atividades secundárias que fazem Yakuza ser Yakuza e mostrar toda a sua maluquice. As sidequests são…putz, cara, tem uma sidequest que envolve um pedido de casamento via palavras cruzadas; tem outra que envolve as vovós taradas de Osaka; tem uma quest meio stealth onde você deve…comprar uma revista pornô para uma criança(!!); tem outra onde você deve ensinar uma dominatriz a ser mais dominante com seus clientes. Eu poderia ficar aqui listando todas as quests do jogo, mas acho que dá pra ter uma ideia. Além das quests, tem atividades secundárias e mini-games mais longos – o melhor de todos é o Cabaret Club, que envolve…gerenciar um Cabaret Club, e se tornar o maior Cabaret Club de Osaka. É massa.

Enfim, Yakuza 0 é maravilhoso, é massa, é legal demais. Esse vídeo talvez explique ainda melhor o espírito do jogo:

Night in the Woods Infinite Fall

Night in the Woods é um jogo sobre voltar pra sua cidadezinha no interior e descobrir que algumas coisas nunca mudam e que outras coisas simplesmente…se vão. Mae Borowski se parece comigo de alguns jeitos – eu consigo me imaginar largando a faculdade sem prestar atenção no que isso poderia causar nas finanças da casa, e talvez eu tenha feito algo um tanto parecido. E em alguns momentos eu sonho voltar pra cidade onde eu gostava de morar, sair bandeando sem rumo com os amigos como se a faculdade nunca tivesse acabado, como se a gente ainda tivesse vinte anos e nada. E uma coisa que NITW faz muito bem é dar pra vida pra esse bandinho de amigos, aliás, pra  todos os personagens: seus amigos, seus pais, os vizinhos, até os personagens aleatórios andando no meio da rua tem diálogos interessantes. Tem o melhor-amigo-pra-sempre Gregg, tem o Angus (namorado do Gregg), tem a moça-sua-vizinha que escreve poesia e faz bicos pra sobreviver, tem o seu ex-professor observando estrelas no telhado da casa, tem o ratinho-estranho viciado em filmes de terror…são muitas personalidades pra uma cidade tão pequena.

Além disso, é um dos raros jogos que se propõe a refletir sobre os efeitos do capitalismo nas cidadezinhas e nas pessoas que vivem nelas. Possum Springs já foi uma cidade muito rica, movida pela mineração, até que um dia as mineradoras simplesmente foram embora. Quem ficou se vira como pode, em um ambiente cada vez mais deserto de alternativas. O supermercado da cidade faliu; a pizzaria favorita da Mae fechou; os empregos existentes pagam pouco; seus melhores amigos planejam ir pra cidades maiores. Não é tão distante de Araçatuba, não é tão distante de nenhum lugar. E em nenhum momento o jogo evita tocar na ferida: o motivo disso tudo é o capitalismo. É um jogo bem Mark Fisher das ideias, mas sem resvalar pro pessimismo (ainda bem).

Enfim, Night in the Woods é um puta jogo. Curtinho de tudo, lindo de tudo, com personagens mais do que simpáticos e com mensagens importantes pra dizer, sem cair no didatismo e sem tornar sua mensagem inofensiva.

Dial-a-song: 20 Years of TMBG They Might Be Giants

Hmmm, e pensar que a coletânea de 20 anos do They Might Be Giants está quase…completando 20 anos! Ironias do destino à parte, esse disco é fantástico. É uma introdução fantástica pra quem quiser descobrir que diabos é TMBG e quem diabos são esses dois maluquinhos. Passa pelos “hits” essenciais, passa pelos temas de TV e cinema, passa pelas músicas anarco-infantis, passa por diversas coisas esquisitas e que, se você for uma pessoa esquisita e/ou com propensão a gostar de coisas esquisitas, com certeza te convencerão a mergulhar mais fundo.

Detalhes legais dessa coletânea: tem uma versão ao vivo de “Stormy Pinkness” que é amor em estado bruto; tem uma versão ao vivo de “She’s Actual Size” com um solo interativo de bateria; e tem todas as mini-músicas de Fintertips reunidas em uma única faixa. Mais bacana impossível!

Eu absolutamente deixei essa música passar em 2010 e descobri agora, por causa do último número de Phonogram – Singles Club (recomendadíssimo se você gosta de música de algum jeito). Caralho, que música é essa, que performance é essa. Desde já declaro que essa é a melhor música sobre lobisomens no cio já composta na história da humanidade.

Eu não posto nesse blog desde fevereiro, sheesh. E o que aconteceu de lá até aqui? Ah, criança…

Aconteceu uma pandemia, bicho. Acho que em fevereiro a gente ouvia as notícias da China mas não imaginava que chegaria aqui. Até que chegou na Itália, até que chegou na Espanha, até que…bum, chegou aqui. Atualmente temos 10 mil mortos, um número absurdo de infectados e uma subnotificação que não nos permite saber quão profundo é o buraco da minhoca. Ah, e temos um presidente que prefere andar de jet-ski do que encarar seus problemas. Mas pro inferno com ele.

Aqui no apartamento nós começamos o isolamento em 15 de março. Hoje é 10 de maio – quase 2 meses de quarentena. Aqui em casa é fácil: eu, meu irmão e minha tia não saímos de casa pra nada, conseguimos pedir tudo o que precisamos com facilidade, meu trabalho tem garantido grana o bastante para nossas necessidades e o mercado de sites continua aquecido. Minha preocupação maior são meus pais, lá em Araçatuba, sozinhos – eu tenho medo deles não levarem a situação a sério e se exporem. O vírus não chegou lá ainda com toda sua força, e as pessoas começam a sentir uma falsa segurança que é bem perigosa. Todo dia eu falo com eles pra ver como tudo está indo.

E é isso, por ora. Jogando o jogo da espera, rezando para que ninguém muito próximo pegue essa merda (duas pessoas da FIB pegaram :/ ), rezando pra que o filho da puta que infecta o planalto não tente um golpe de estado. Esse post vai ser bem diarinho from the pandemic front, pra lembrar de que isso ocorreu, e de que estávamos assim por esses dias.

Alguns meses atrás eu “descobri” o Arctic Monkeys com alguns anos de atraso – e volto a repetir, esses meninos vão longe, tem futuro! E aí hoje especificamente foi o dia em que eu “descobri” St. Vincent – ótima banda, essa menina Annie Clark vai longe, tem futuro!

(Talvez eu tenha desenvolvido um leeeeeeve crush na Annie Clark, de látex verde, ripando na guitarra, hold me like a weapon – oh well, I can’t turn off what turns me on.)

Saiu um artigo na BBC falando sobre o iFood, mostrando como eles estão levando restaurantes pequenos à falência ao mesmo tempo em que financiam restaurantes sem marca, apelidados de “dark kitchens” em áreas estratégicas (usando todos os dados que eles coletam com o app).

Enfim, hora de parar de usar o iFood? Eu sou um baita de um heavy user deles: teve uma época em que eu chegava a pedir entre quatro a cinco vezes por semana, hoje em dia está entre uma ou duas vezes. Ver essa transformação deles dá um certo desgosto, principalmente por ser uma batalha que eles vão ganhar. Ou morrer e levar todo um mercado junto.

O mundinho das start-ups atualmente segue esses passos:

  1. 1. Encontre um modelo de negócios que envolva facilitar a vida de clientes e de prestadores de serviço, e crie um app ou serviço baseado nessas duas personas se encontrando: o motorista e a pessoa que precisa ir em um lugar, o restaurante e a pessoa que quer receber comida em casa, etc.
  2. 2. Veja seu serviço crescer, veja o número de usuários aumentar, possivelmente veja o dinheiro entrar (?). Torne-se uma marca conhecida.
  3. 3. Torne-se uma marca conhecida e cobiçada pelos investidores. Fature milhões ou bilhões nas rodadas de investimento.
  4. 4. Comece a transformar seu modelo de negócio em algo potencialmente escuso ou simplesmente desprezível. Torne-se uma empresa monopolizadora de transporte, que precariza seus empregados (e nega que eles sejam seus empregados) ao mesmo tempo em que faz tudo para fechar seus concorrentes. Torne-se uma empresa de delivery que tem seus próprios restaurantes, e use suas ferramentas para controlar quem vive e quem morre no mercado de restaurantes.
  5. 5. Morra junto com todo mundo nas Guerras Climáticas de 2032.

 

A reportagem também toca em outro ponto que eu presenciei ao vivo: o iFood isola cliente, entregador e restaurante. Me surpreendi ao saber que os restaurantes não sabem quem são seus clientes – mas claro, faz todo o sentido. Ano passado eu fiz um pedido que não chegou, pois o site deles (do iFood) estava cagado e não enviava o número de meu apartamento. Vi isso no momento que fiz o pedido, dei meus pulos e consegui o número do restaurantes – eles receberam o pedido, mas não podiam me ajudar pois não tinham contato com o entregador. Tentei o contato com o entregador, o que também não foi possível – a única solução era entrar no chat do iFood e esperar a boa vontade de um bot. O entregador chegou lá embaixo, não sabia qual apartamento apertar, tentou me ligar e também não conseguiu, e deve ter feito o que qualquer trabalhador precarizado faria: jogou meu pedido fora e partiu para a próxima entrega. No final o iFood me devolveu o dinheiro, mas o problema não era esse. O problema é essa “blindagem” artifical que só beneficia o aplicativo e dificulta a vida de todos os envolvidos.

Enfim, foda-se iFood, aqui vamos nós ligar nas pizzarias para fazer nossos pedidos – como se fosse 2010? Ou usar os aplicativos próprios, no caso de restaurantes um pouco maiores. É triste isso, temos a tecnologia para facilitar nossas vidas com potencial de trazer benefícios para todos os envolvidos – mas não vamos fazer isso, porque nosso interesse real é trazer lucro para os investidores da forma mais rápida e grotesca possível, e não importa se vamos destruir o mercado todo no processo.

1 2 3 4 5